o encontro na cafeteria da rua 7
À distância, Roberta observa a expressão do rosto dele. Entre o breve sentimento de estar de volta para um lugar familiar e repulsa, ela revive os últimos minutos que esteve sob o mesmo teto que seu pai, naquele fatídico dia em que foi embora sem olhar para trás e decidida a focar em si.
Ela não sabia se deveria ir falar com ele no salão da cafeteria em que trabalha porque conseguia imaginar a cena de gritos e xingamentos que poderia começar após dizer um simples ‘oi, pai’. As diferenças entre eles eram gritantes, mas Roberta se lembrava de momentos de quando era criança e ainda tinha um bom relacionamento com seu pai.
O que ele estava fazendo ali na hora do almoço? Sabia que era longe da casa de seus pais. Será que ele sabia que ela trabalhava lá? O cabelo dele estava igual e o rosto apenas com algumas marcas de expressões a mais. Ele iria reconhecê-la depois de anos?
Foi aí que Roberta sentiu a sensação de estar de volta em sua casa de infância e para sua antiga rotina, como quando chegava da escola e contava para seu pai tudo o que tinha aprendido naquela manhã: a Revolução Francesa, a divisão das células, as fórmulas de matemática e a redação escrita por ela e elogiada pela professora.
O problema foi que, com o passar dos anos, Roberta e seu pai se distanciaram. Ele não entendia a vontade da filha de descobrir o mundo, quebrar a cara vivendo novas experiências e simplesmente ser independente. Ela tinha 18 anos, afinal. Não era mais uma garotinha nem mocinha.
No começo das brigas até que seus irmãos e sua mãe conseguiram acabar com as discussões entre pai e filha, mas com a frequência cada vez maior, eles foram desistindo. Os irmãos colocavam seus fones de ouvido e ignoravam os gritos, como se estivessem imersos em outra realidade. A mãe ia chorar no quarto e pensava o quanto disso era sua culpa.
Roberta sentia que seu coração ia se partindo a cada vez que essa cena se repetia, mas ela precisava que seu pai entendesse quem ela estava se tornando. Naquele 13 de maio ela fez as malas, conversou com seus irmãos, deu um beijo na testa da mãe e quando foi se despedir do pai, tiveram a pior briga de todas.
Ela jura que nunca se arrependeu dessa decisão mesmo que o começo da sua vida adulta não tenha sido nada fácil. Agora via o pai com uma pequena distância física depois de 7 anos sem nem trocar uma mensagem.
Ela deveria falar com ele?
Conto baseado em um exercício do curso Jornada da Criatividade, ministrado por Liliane Prata.
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